Bem, esse texto é em homenagem a postagem de Tiaguinho meu amigo, fã de Cazuza.
Sou um pouco "agridoce" ao falar do cantor, mas deixo claro, que sim, gosto muito dele.
Crítica sobre o filme O TEMPO NÃO PÁRA
Por Midiã Santana
O Filme Cazuza – O tempo não pára, mostra o esforço da Indústria Cultural na construção da imagem de Cazuza como um ícone dos anos 80. Um alguém que brilhou e teve seus anos de glória, mas que após adquirir AIDS, continuou a ser um poeta que vivia intensamente. Claramente, tudo isso é muito bonito de se mostrar a um público que já tem a imagem construída e pré-estabelecida sobre o seu ídolo feito pela mídia.
Mas, é isso que o artista era realmente? Obviamente que não. No caso de Cazuza ele era um menino classe média alta, que não era um bom filho, um bom amigo, um bom aluno, e que em seus últimos anos de vida morreu impotente de suas forças, em uma morte precoce, por viver de uma forma anti-moralista, impondo no filme que ser correto não é algo necessário para a conquista dos objetivos, completamente contraditório ao que a sociedade ressalva.
O Filme não retrata de forma real quem era o Cantor. Cazuza foi filho de João Araújo, fundador da gravadora Som Livre, conseqüentemente conviveu desde jovem com grandes nomes da MPB, era um “filhinho de papai” pertencente a uma família de classe média alta.
Houve episódios de sua vida que não foram abordados, como a viajem do cantor na adolescência a Califórnia, para fazer um curso de fotografia, porém não o concluiu. Cazuza também prestou vestibular, no Centro de Comunicações de Jacarepaguá, onde foi aprovado, mas trancou a matrícula logo em seguida, pois seu único interesse em fazer o vestibular era ganhar o carro caso passasse, como o pai havia prometido. E o fato mais importante, porém vetado, que ao invés de ser apenas um usuário de drogas, Cazuza também era considerado como um traficante da Zona Sul, mas induzir o povo a seguir um ídolo traficante morador de um apartamento em Ipanema, não é o objetivo do Filme, então “direto para debaixo do tapete”.
Acredito, que esses tipos de “anseios de rebelde sem causa”, foram ocultados para que os espectadores não perdessem o elo, a proximidade com a historia do cantor. O que creio ser muito prejudicial na “reconstrução” da imagem de um ídolo, pois fatos como esses que são considerados menos importantes podem não ser percebidos pela maioria, porém os reais fãs do cantor não gostam apenas das superficialidades.
A seqüência do filme segue de forma correta, Cazuza entra no grupo de Teatro onde conhece Bebel Gilberto e Léo Jaime, que o apresenta para o Barão Vermelho, onde se torna vocalista, e depois de alguns anos sai do grupo, adquiri AIDS, continua fazendo sucesso com sua forma excessiva de viver.
A forma descarada e inconseqüente que o protagonista vivia mesmo após de descobrir a doença foi bem apresentada no filme. Mas um dos momentos mais tristes de sua carreira foi deixado de lado, e não foi abordado: Quando na capa da revista Veja estamparam uma foto dele ressaltando a magreza esquelética do cantor, com a manchete "Uma vítima da Aids agoniza em praça pública". A matéria questionava as obras de Cazuza, e afirmava "Cazuza não é um gênio da música”. Momento mais do que marcante, diria traumatizante para a vida de um cantor tão cheio de ego, vendo seu objetivo de ser um ícone sendo deturpado por uma revista, deveria ser contextualizado no filme. Obviamente, o objetivo do filme era mostrar um ídolo forte que independente de sua doença vivia intensamente, mas é claro que não iriam comprar briga com uma revista que circula até os dias atuais, para ao invés de lucrarem com o filme, terem prejuízos.
De qualquer maneira o filme merece aplausos, por relembrar a personalidade de um cantor misto, cheio de incertezas, vitórias e fracassos, e também por revelar que Cazuza percebeu a não existência de uma ideologia para se viver, e que ter ideais é questionar, interrogar o cotidiano, o despercebido. E mesmo ao cantar “ideologia eu quero um para viver”, a mensagem pode ser entendida de formas diferentes, para cada cinéfilo e ouvinte, mas infelizmente nesse tipo de "reconstrução do artista”, nunca fica explicito que a verdadeira Ideologia do Cinema é movida pela Industria Cultural.